Mato Grosso do Sul tem mais de 1.240 milhão de pessoas em situação de pobreza. Atualmente, quase metade da população do Estado é considerada de baixa renda e necessita do auxílio de programas sociais para sobreviver. A situação fica ainda mais crítica quando olhamos para os municípios do interior, que chegam a ter 70% de seus moradores nesta situação.
Dados de inscritos no Cadastro Único do Governo Federal, fornecidos pelo Ministério da Cidadania, mostram a escalada da pobreza em Mato Grosso do Sul. Em setembro de 2017, eram 1.039 milhão inscritos no cadastro. Menos de cinco anos depois, o número cresceu 19,3%.
A alta nos preços de itens básicos como alimentação, energia elétrica e combustíveis aliado ao aumento do desemprego desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020, agravaram drasticamente o cenário. Em um ano e meio, mais de 200 mil pessoas foram inseridas no CadÚnico.
Em novembro de 2020 o total de pessoas de Mato Grosso do Sul inscritas no CadÚnico era de 1.038 milhão. Desde então o gráfico vem em uma escalada crescente, chegando a 1.240 milhão em abril de 2022, último dado disponível pelo Ministério da Cidadania. A data coincide com o fim do pagamento do Auxílio Emergência pelo Governo Federal.
O CadÚnico inclui aqueles que ganham até meio salário mínimo por pessoa (R$ 606) ou até 3 salários mínimos de renda mensal total familiar (R$ 3.636).
Desigualdade social alarmante
Os municípios de Japorã e Coronel Sapucaia se destacam no mapa da pobreza de Mato Grosso do Sul, sendo que ambos têm atualmente mais de 70% da sua população em situação de pobreza. Das 79 cidades do Estado, 36 delas têm mais de 50% da população inscrita no CadÚnico, ou seja, em situação de pobreza.
Atualmente, apenas três municípios contam com menos de 30% da população em situação de pobreza, sendo eles Itaporã, Sonora e Maracaju. Em comum, as três cidades tem o agronegócio como principal atividade econômica. Itaporã e Maracaju inclusive estão entre as 100 cidades mais ricas do Brasil, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Mas não são só elas. Outras 11 cidades de Mato Grosso do Sul foram listadas pelo Mapa no início de 2022, como as mais ricas do país, consideram a produção agrícola. Ponta Porã, Sidrolândia, Dourados, Rio Brilhante, Caarapó, Costa Rica, Aral Moreira, Chapadão do Sul, Nova Alvorada do Sul, Naviraí e Laguna Caarapã.
Apesar de algumas melhores posicionadas no mapa da pobreza, Costa Rica, Água Clara e Aral Moreira têm mais de 50% da população em situação de pobreza atualmente.
Inflação que afeta os mais pobres
Pesquisador da UFMS, Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues é Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e destaca que vários fatores contribuíram, sobretudo a partir de 2020, para o aumento da pobreza em todo o país. Um dos principais é o aumento de 21,3% na inflação brasileira, entre janeiro de 2020 e junho de 2022.
O pesquisador destaca ainda que a inflação não impacta da mesma forma famílias de classe média, por exemplo, visto que nessa faixa salarial o gasto com itens básicos compromete uma parcela menor da renda mensal. “Inflação é um imposto para pobres, por que quando sobe ela onera diretamente essas famílias de renda mais baixa e não as de classe média e alta”, diz.
Apesar de Mato Grosso do Sul se destacar nacionalmente na produção do agronegócio, o progresso da cadeia não chega até a população mais pobre. “A desigualdade reduz quando se oferece emprego e alternativas de renda e o agronegócio não é um setor que contribua para isso. O agronegócio é uma atividade concentradora de riqueza e não um agente redutor da desigualdade. O setor caminha para ser cada vez mais automatizado, contratando cada vez menos e mão de obra mais básica”, destaca o pesquisador.